19 de dezembro de 2011

Texto: Youssef Chahine


Eu realizo filmes, em primeiro lugar, por mim. Depois por minha família. Depois por Alexandria e, então, pelo Egito. E se o mundo árabe gostar deles, ahlam wa Sahlan (são bem-vindos). E se a audiência estrangeira gostar também, então serão mais do que bem-vindos.
Youssef Chahine

Youssef Chahine é, sem dúvida, um dos maiores diretores do cinema árabe. Ícone e pioneiro do cinema egípcio, nasceu nesse país, em Alexandria, no ano de 1926. Estudou na Universidade de Alexandria e cursou Cinema e Arte Dramática nos EUA. Dirigiu dezenas de filmes, entre eles O destino (1997), A outra (1999) e Alexandria… New York (2004), que abordam temáticas relacionadas à complexa sociedade egípcia e à vida urbana. Falecido em 2008, deixou uma obra premiada e reconhecida em inúmeros países.

Sobre a vida e obra de Youssef Chahine
Nascido em 25 de janeiro de 1926 em Alexandria, iniciou seus estudos na Friar’s School e no English College. Após um ano na Universidade de Alexandria, em que focou seu interesse nos estudos de teatro, mudou-se para os Estados Unidos. Na Pasadena PlayHouse, próxima de Los Angeles, ele estudou Cinema e Arte Dramática por dois anos. Aos 23 anos, dirigiu seu primeiro filme, Baba Amine (1949). Em 1970, Chahine foi premiado com o “Golden Tanit” (Grande Prêmio) do Festival de Filmes de Cartago por The Choice. Em 1972, com o filme The Sparrow, dirigiu a primeira coprodução Egípcia-Argelina. Sete anos depois, ganhou o prestigioso “Urso de Prata”, junto com o Grande Prêmio do Júri do Festival de Berlim, com Alexandria... Why? (1978). Esse filme tornou-se, posteriormente, a primeira parte do que viria a ser uma trilogia autobiográfica que foi completada com An Egyptian Story (1982) e Alexandria again and forever (1990).

Em 1992, Jacques Lassalle propôs a Chahine realizar uma parte da La Comédie Française e Chahine escolheu adaptar O Calígula, de Albert Camus, que se transformou em um enorme sucesso. Em 1994, filmou The Emigrant, uma estória inspirada no personagem bíblico José, filho de Jacob. Esse era um projeto com o qual Chahine sonhou por várias décadas, desde os anos 50. Em 1997, quando o seu filme mais recente era exibido durante o prestigioso Festival de Cannes, Chahine foi premiado com o “Cinquentenaire Prize” pelo conjunto de sua obra. Em 1999, seu filme The Other (exibido na 4ª Mostra Mundo Árabe de Cinema do ICArabe) foi selecionado para a abertura de “Un Certain Regard”, no Festival de Cannes. Dois anos depois, ele dirigiu o musical Silence... We´re rolling, e em 2004, Alexandria… New York, que deu sequência a sua trilogia autobiográfica.

Os últimos anos
Os anos 90 foram marcantes para o diretor, que atingia a sua maturidade. Chahine havia escrito roteiros para os seus mais audaciosos trabalhos e, no início da década, começou a tocar em temas mais polêmicos. The Emigrant (O emigrante, Al Mohager), de 1994, escrito com Rafiq As Sabban, é um exemplo disso. Por ter um personagem inspirado no profeta José, o filme foi censurado e retirado dos cinemas, mesmo após várias semanas de estrondoso sucesso. Ele foi processado por grupos fundamentalistas que convenceram a corte de que a obra era uma blasfêmia. Chahine mostrou-se inconformado com a decisão e considerou uma humilhante afronta após dois anos de trabalho empreendidos no filme.

A partir desse momento, dedicou-se a temas ainda mais controversos. Um dos melhores exemplos foi em 1997, com o filme The destiny (O destino, Al Massir). A história tem como pano de fundo a Espanha moura do século XII, uma era gloriosa para o Islã, e mostra uma das figuras mais ilustres da época, o filósofo Averroes. Um dos tradutores das obras gregas antigas para o árabe – o que ajudou a preservá-las da destruição –, Averroes formulou suas próprias teorias, que precederam as do Iluminismo europeu por vários séculos. O filme de Chahine retrata o reino liberal do califa mouro Al Mansour, cujos seguidores são fanáticos religiosos, em uma clara analogia aos dias atuais. Por ocasião da première de O destino, no ano de 1997, em Cannes, ele também foi agraciado com prêmio pelo conjunto da obra, de enorme prestígio, oferecido a poucos cineastas, como Orson Welles e Luchino Visconti. De volta ao Egito, Chahine continuou sua batalha com alguns grupos fundamentalistas que se opunham a certos temas em seus filmes. Esse fato causou grande impacto na indústria cinematográfica egípcia, que passou a uma nova onda cultural, com uma redução drástica no número de filmes lançados pelos estúdios do Cairo.

Após os acontecimentos de setembro de 2001, as questões tornaram-se mais difíceis e críticas para o cinema de Chahine. Alexandria… New York, de 2004, foi outro trabalho semiautobiográfico, em que mostrava um agitado diretor egípcio que visitava Nova York pela primeira vez em muitos anos. De forma muito especial, o filme apela de maneira subliminar por um mundo com mais tolerância e entendimento, mais poetas e pensadores, forçando a audiência a prestar atenção em outra linguagem, outra sensibilidade, outra visão de mundo.

Aos 81 anos, Chahine concluiu seu último filme, Caos (Heya Fawda, exibido na 4ª Mostra Mundo Árabe de Cinema), que foi lançado em 2008 e selecionado nos festivais de Veneza e de Toronto. Mas ele não pôde ver seu sucesso derradeiro, exibido até o presente momento em vários cinemas em todo o mundo.

Fonte: http://www.youssefchahine.us/index2.html (Website oficial)

Filmografia selecionada

2007. This is Chaos (Heya Fawda)
2004. Alexandria… New York (Iskanderija… New York)
2002. 11'09''01 - September 11 (segment: Egypt)
2001. Silence… We’re Rolling (Skeet Hansawwar)
1999. The Other (El Akhar)
1997. Destiny (Al-Massir)
1994. The Emigrant (Al-Mohager)
1991. Cairo as seen by Chahine (Al-Qahira Menauwwara Bi Ahlaha)
1989. Alexandria, again and Forever (Iskanderija, Kaman Oue Kaman)
1986. The Sixth Day (Al-Yawm Al-Sadis)
1985. Adieu Bonaparte (Weda’an Bonapart)
1982. An Egyptian Story (Hadduta Misrija)
1978. Alexandria, Why? (Iskanderija… Lih?)
1976. The Return of the Prodigal Son (Awdat Al Ibn Al Dal)
1972. The Sparrow (Al-Asfour)
1971. Golden Sands (Rimal Min Dhahab)
1970. The Choice (Al-Ikhtiyar)
1969. The Land (Al-Ard)
1968. The People of the Nile (Al-Nass Wal Nil)
1967. The Feast of Mairun (Id Al-Mairun)
1965. The Ring Seller (Biya El-Khawatim)
1964. Dawn of a New Day (Fagr Yom Gedid)
1963. Saladin (El Naser Salah El Dine)
1961. A Lover’s Call (Nida Al’Ushshaq)
1961. A Man in my Life (Rajul Fi Hayati)
1960. In Your Hands (Bein Edeik)
1959. Forever Yours (Hubb Lel-Abad)
1958. Cairo Station (Bab El Hadid)
1958. Jamila, the Algerian (Djamilah)
1957. My One and Only Love (Inta Habibi)
1957. Farewell, my Love (Wadda’tu Hubbak)
1956. Struggle on the Pier (aka. Dark Waters) (Siraa Fil-Mina)
1951. Son of the Nile (Ibn El Nil)
1950. Father Amine (aka. Daddy Honest) (Baba Amin)

Texto retirado de http://www.icarabe.org/mostras/mundoarabe2009/diretores.htm

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